Agência BBC

5 inventores que morreram por causa de suas próprias criações

Uma série de invenções contribuíram para o desenvolvimento da humanidade — mas, em alguns casos, as consequências para seus criadores são fatais.

Ilustração de Ícaro caindo
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Assim como Dédalo, que perdeu seu filho Ícaro na mitologia grega, vários inventores foram vítimas de suas próprias criações

Nem todos os inventores têm a mesma sorte.

Alguns ficam famosos por suas criações, e há até quem entre para a história como um nome que todos associam ao seu produto.

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Desde o código Morse de Samuel Morse e a pasteurização de Louis Pasteur, passando pela jacuzzi de Candido Jacuzzi e o cubo mágico de Rubik de Ernő Rubik, até invenções mais sinistras, como o fuzil Kalashnikov AK-47 de Mikhail Kalashnikov; mais melodiosas, como o saxofone de Adolphe Sax; e mais saborosas, como o sanduíche do 4º Conde de Sandwich...

A lista é longa.

Mas há também muitos inventores cujos nomes poucos lembram, embora suas invenções sejam usadas diariamente, como Robert Yates, a quem devemos o abridor de latas; Margaret Knight, que criou a sacola de papel com fundo plano; e Garrett Augustus Morgan, o afro-americano que inventou o semáforo.

E ainda há aqueles cujas mortes estão intimamente ligadas às suas próprias criações.

A seguir, listamos cinco deles.

Queda dos céus

Ser capaz de voar como os pássaros é um sonho compartilhado há muito tempo.

Na mitologia grega, Dédalo fez isso para escapar de sua própria criação, o labirinto de Creta, com asas de penas e cera fabricadas por ele mesmo, que ele prendeu às suas costas e às de seu filho Ícaro.

Mas, assim como Ícaro, outras pessoas ao longo da história caíram das alturas, embora não por "voar muito perto do Sol".

Mesmo quando já havia algo em que voar e o que se queria era pairar para amortecer as quedas do céu, a força da gravidade continuava a fazer vítimas.

Uma delas foi o pintor de aquarela britânico Robert Cocking, lembrado não por suas obras de arte, mas por morrer no primeiro acidente de paraquedismo da história.

Duas litografias coloridas mostrando a subida do balão e a descida fatal de paraquedas de Robert Cocking (1776–1837)
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Estas duas litografias coloridas mostram a subida do balão e a queda fatal de paraquedas de Robert Cocking (1776–1837)

Em 1785, o célebre inventor francês Jean-Pierre Blanchard realizou o primeiro salto de paraquedas moderno.

Meio século e outros paraquedas depois, Cocking achou que poderia melhorar o design dessas engenhocas, e passou anos desenvolvendo um até chegar a hora de exibi-lo.

Em 24 de julho de 1834, ele levantou voo a bordo de sua criação, em Londres, pendurado no famoso balão Royal Nassau.

Quando chegou à zona de pouso em Greenwich, ele havia subido cerca de 1.500 metros, e o Sol já estava se pondo: ele tinha que se soltar do balão. Era agora ou nunca.

Ele fez isso e, por um momento, tudo parecia correr bem, embora ele estivesse indo muito rápido. Mas, de repente, o tecido do paraquedas virou, começou a rasgar e se separou completamente da cesta.

Cocking morreu no impacto. Ele havia esquecido de levar em conta o peso do paraquedas em seus cálculos.

Cerca de 80 anos depois, um alfaiate francês teve o mesmo destino.

Reichelt com traje com muito tecido
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Franz Reichelt mostrando o paraquedas que ele projetou

A queda de Franz Reichelt foi igualmente espetacular, só que, no caso dele, foi registrada não apenas por desenhistas, mas também por fotógrafos e toda uma equipe de filmagem.

O alfaiate queria projetar um traje para pilotos que se expandisse e se transformasse em um paraquedas, caso precisassem ser ejetados do avião.

Seus primeiros designs com asas dobráveis ​​feitas de seda se mostraram promissores em testes com manequins lançados do seu prédio em Paris.

Mas eles não eram facilmente transportáveis, então ele modificou o design e, quando ficou pronto, procurou um local de lançamento mais alto, para que os manequins ganhassem velocidade suficiente para que seu paraquedas abrisse corretamente e freasse a queda.

O primeiro andar da Torre Eiffel, que ficava a 57 metros do solo, era o local ideal.

Ele obteve autorização para um teste, e convocou a imprensa para o dia 4 de fevereiro de 1912.

Naquela data, ele fez um anúncio surpresa: não jogaria um manequim, jogaria a si mesmo.

Apesar de ter sido advertido pela polícia de que não tinha autorização para um salto deste tipo, e de seus amigos terem tentado dissuadi-lo, ele subiu na torre e, com o traje parcialmente aberto, saltou.

O paraquedas nunca abriu totalmente, e Reichelt morreu na frente de uma multidão de espectadores.

Contra a maré

Uma cadeira de aparência confortável que, quando alguém se sentava nela, fechava os braços em volta do ocupante. Um carrinho de chá com doces que flutuavam magicamente do teto...

Estas eram duas das muitas atrações que surpreendiam os visitantes da residência de Henry e Jane Winstanley, conhecida como Casa das Maravilhas de Essex, na Inglaterra.

Elas eram obra do pintor e gravurista Winstanley, fascinado por engenhocas mecânicas e hidráulicas.

Na década de 1690, ele abriu o Mathematical Water Theatre, em Londres, repleto de atrações extravagantes e engenhosas criadas por ele mesmo.

A popularidade permitiu a ele investir em barcos.

 Farol de Winstanley
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A primeira versão do Farol de Winstanley

Quando dois deles naufragaram nas rochas de Eddystone, na costa sudoeste da Inglaterra, Henry Winstanley descobriu que a área era famosa por causar naufrágios e tirar a vida de muitos marinheiros ao longo dos séculos.

Ele precisava fazer algo.

Elaborou então planos para construir um farol nas rochas, e os levou ao Almirantado, mas teve dificuldade em convencer as autoridades: nenhum farol jamais havia sido construído em alto mar, muito menos em rochas cobertas pela água na maré alta.

As obras começaram em 1696, mas Winstanley foi sequestrado por piratas franceses. Ele voltou ao trabalho assim que foi libertado e, em 1698, acendeu as 60 velas da torre de 27 metros.

Quando percebeu que ela rangia com ventos fortes, e não podia ser vista se as ondas fossem muito grandes, ele redesenhou a estrutura, reforçou as paredes e aumentou sua altura para 40 metros.

Satisfeito com a segurança da sua invenção, o primeiro farol em alto mar da história, Winstanley declarou que ficaria feliz em passar uma noite lá durante a "maior tempestade de todos os tempos".

Dito e feito.

O farol
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Mais alto e resistente, para alertar os navios do perigo

Em 1703, aconteceu a tempestade mais violenta já registrada nas Ilhas Britânicas, com ventos que chegaram a 190 quilômetros por hora, matando cerca de 15 mil pessoas no mar e em terra.

Winstanley esperou impacientemente pela oportunidade de ir ver se seu farol havia passado no teste e, em 27 de novembro, os ventos diminuíram o suficiente para que ele pudesse fazer isso.

Fascinado por encontrá-lo de pé, ele disse aos seus acompanhantes que passaria a noite ali, e pediu que voltassem para buscá-lo pela manhã. Eles nunca mais o viram.

Naquela noite, os ventos sopraram ainda mais forte, levando embora todos os vestígios do farol e do seu criador, conforme relata o site The Ministry of History.

Mas o trabalho dele não foi em vão.

Durante os cinco anos em que funcionou, nenhum naufrágio foi registrado na área, um feito fenomenal em um local tão perigoso.

É por isso que até hoje existe um farol nas rochas de Eddystone.

Raios e faíscas

Na década de 1740, os fenômenos elétricos despertaram o interesse de muitos cientistas, especialmente após a invenção acidental da garrafa de Leyden em 1745.

O físico russo de origem germano-báltica, Georg Wilhelm Richmann, que realizou trabalhos pioneiros sobre eletricidade, foi um destes entusiastas.

Quando, em 1752, Benjamin Franklin afirmou que o raio era um fenômeno elétrico, e que um experimento poderia provar isso, Richmann quis fazer isso, para poder medir a intensidade da eletricidade atmosférica com um eletrômetro que ele havia inventado.

Ele instalou uma haste de ferro em sua casa conectada a um cabo no teto, com seu eletrômetro montado na haste, explica um artigo da Linda Hall Library.

Richmann desmaiado, seu gravador assustado e uma bola de fogo
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Ilustração do livro Les Merveilles de la Science, publicado em 1870, da morte de Richmann

Em 6 de agosto de 1753, começou uma tempestade, e Richmann voltou correndo da Academia Russa de Ciências para casa, levando consigo o gravurista da Academia (supostamente para registrar algumas imagens), que acabou testemunhando o que aconteceu.

Richmann estava de olho em seu eletrômetro quando o gravurista viu uma pequena bola de relâmpago saltar da barra para a testa de Richmann, jogando-o no chão.

Depois, houve uma explosão, e as chamas começaram a se espalhar.

Richmann foi a primeira vítima fatal de uma pesquisa elétrica.

"Nem todo eletricista pode morrer tão gloriosamente quanto o justamente invejado Richmann", escreveria o cientista britânico Joseph Priestley em 1767.

A pontapé

O século 19 testemunhou o início de uma era de enormes impérios editoriais e, para atender à demanda, foi necessário superar as limitações das rotativas elétricas existentes.

E, na década de 1860, o americano William Bullock ajudou a revolucionar o setor de impressão. Ele inventou a prensa rotativa de bobina, que resolveu vários problemas técnicos importantes.

Sua prensa permitia que grandes rolos contínuos de papel fossem alimentados automaticamente por meio de bobinas, eliminando assim o trabalhoso sistema de alimentação manual das prensas anteriores.

Além disso, a prensa se ajustava automaticamente, imprimia em ambos os lados, dobrava o papel, e as folhas eram cortadas com precisão e rapidez.

Mas, em abril de 1867, quando ele estava fazendo ajustes em uma das novas prensas que estavam sendo instaladas para o jornal Philadelphia Public Ledger, uma correia de transmissão se soltou da polia.

Em vez de desligar a rotativa, William Bullock honrou a antiga tradição de chutar a máquina para fazê-la funcionar.

A perna dele ficou presa no mecanismo e, embora tenham conseguido resgatá-lo, ele desenvolveu gangrena, e morreu durante uma operação para amputar a perna.

Em 1964, ele foi homenageado com uma placa que diz: "Sua invenção da prensa rotativa (1863) tornou possível o jornal moderno".

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