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Cinco verdades sobre as bebidas alcoólicas para te ajudar a evitar a ressaca

Conhecimento que a ciência produziu sobre esse fenômeno tão mundano pode ser útil para evitar seus efeitos desagradáveis. Por exemplo: ao contrário do que prega a crença popular, misturar bebidas não potencializa efeito do álcool – o que faz a diferença é a quantidade total consumida.

18:43 | Jan. 17, 2025

Por: Equipe BBC Science Features -

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Conhecimento que a ciência produziu sobre esse fenômeno tão mundano pode ser útil para evitar seus efeitos desagradáveis

Surtos de amnésia, dores de cabeça lancinantes, letargia extrema e náuseas – tudo cruelmente combinado com uma fome avassaladora.

Os sintomas parecem descrever uma doença terrível, mas se trata da boa e velha ressaca, que costuma vir depois de uma noite de ingestão de álcool.

O consumo de bebida alcoólica está associado ao aumento do risco para pelo menos sete tipos de câncer.

Uma das substâncias apontadas como responsáveis por esse efeito é o acetaldeído, que tem a capacidade de causar danos permanentes ao DNA e é produzido quando o álcool é metabolizado pelo fígado.

Ele também é apontado como causador de alguns dos sintomas da ressaca.

Os culpados potenciais pelo fenômeno, entretanto, podem ser vários. Reunimos, a seguir, um pouco do conhecimento que a ciência produziu sobre o assunto, que pode ser útil para quem distância dos seus efeitos.

Vinho tinto realmente causa dor de cabeça

Quando o assunto são as dores de cabeça (um sintoma particularmente desagradável vivenciado por algumas pessoas depois de beber), o vinho tinto tem má reputação há muito tempo.

Mais de 2 mil anos atrás, os antigos romanos já relacionavam os efeitos perturbadores da dor de cabeça causada pelo vinho tinto.

Acreditou-se por muito tempo que os ingredientes ativos causadores do mal-estar fossem compostos como os sulfitos, mas o vinho branco contém a mesma quantidade desses componentes e existem evidências que demonstram que ele não causa tanta dor de cabeça quanto o tinto.

O responsável, na verdade, pode ser um composto chamado quercetina, encontrado em grande quantidade na casca das uvas tintas, segundo uma recente pesquisa realizada por cientistas da Universidade da Califórnia em Davis, nos Estados Unidos.

Eles acreditam que a quercetina prejudique o processamento normal do álcool em certas pessoas.

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Ao contrário do que prega a crença popular, misturar bebidas não deixa as pessoas mais embriagadas – o que faz a diferença é a quantidade total de álcool consumida

Normalmente, depois que o corpo transforma o etanol do álcool em acetaldeído, a enzima ALDH converte essa substância em acetato.

Nem sempre, contudo, o tipo do álcool é o culpado pela dor de cabeça. Às vezes, a questão recai sobre as características individuais na forma de metabolismo do álcool em cada corpo.

Algumas pessoas possuem enzimas que não processam o álcool com a mesma eficiência, e os níveis de acetaldeído nocivo se acumulam, causando as famosas dores de cabeça.

O efeito inebriante da expectativa

As pessoas podem reagir ao álcool de formas inesperadas.

Algumas pessoas costumam ficar violentas, desagradáveis, uma minoria fica triste, outras, tagarelas.

Mas o escritor David Robson explica no seu livro The Expectation Effect ("O efeito da expectativa", em tradução literal) que os efeitos do álcool não são totalmente químicos.

Expectativas sociais podem ter influência em nossa reação quando bebemos.

Em um estudo, participantes informados que haviam bebido vodca misturada com o energético Red Bull se sentiram mais sob efeito do álcool do que os que receberam a indicação de que teriam tomado um "coquetel de vodca" ou "de frutas exóticas".

E aqueles que acreditavam que misturar álcool com energéticos pode deixar as pessoas mais bêbadas experimentaram os efeitos maiores.

Esta pode ser uma forma de se sentir mais afetado pela bebida tomando uma quantidade mínima de álcool.

O mito de misturar bebidas

A sabedoria popular afirma que nem todas as bebidas alcoólicas são criadas iguais, pelo menos em termos da gravidade da ressaca que elas causam.

Existem certamente algumas diferenças nas substâncias contidas nas bebidas alcoólicas que podem influenciar a ressaca.

A principal delas é o próprio álcool, que possui efeito diurético que pode deixar você desidratado se não beber água suficiente junto com a bebida.

Também sabemos que beber demais pode resultar em má qualidade do sono e nos deixar menos propensos ao movimento rápido dos olhos (REM, na sigla em inglês), que nos deixa renovados pela manhã.

Quanto mais alto o teor alcoólico, mais fácil consumir a bebida em maior quantidade em um curto espaço de tempo, especialmente no caso de coquetéis que mascaram o sabor com ingredientes aromáticos.

O nosso corpo normalmente consegue decompor o etanol em acetaldeído com muita rapidez, antes de transformá-lo em ácido acético.

Mas os portadores de uma variação genética que impede a sua decomposição permanecem com níveis elevados de álcool no sangue depois de beber. Por isso, sua tendência é de sofrer ressacas mais fortes.

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Expectativa pode nos fazer experimentar sintomas da embriaguez mais fortes do que a realidade

Existem outras substâncias ocultas na sua bebida favorita que também podem colaborar com a sensação ruim na manhã seguinte. Elas ajudam a explicar por que algumas bebidas podem causar sintomas mais fortes do que outras.

As principais são as substâncias que a indústria de bebidas chama de congêneres, produzidas durante o processo de fermentação. Elas incluem acetona, óleo fúsel e taninos, que fornecem a cor e o sabor adstringente das bebidas mais escuras, como o uísque e o vinho tinto.

O uísque Bourbon, por exemplo, contém 37 vezes mais congêneres do que a vodca. E estudos demonstraram que as pessoas que passam a noite tomando Bourbon costumam sofrer ressacas mais fortes no dia seguinte do que aquelas que bebem vodca.

Mas é preciso observar que os efeitos dos congêneres sobre a ressaca são menores que os do volume de álcool propriamente dito.

Um estudo chegou a examinar duas regras comuns entre os consumidores de álcool. Uma diz que primeiro se deve beber cerveja e depois vinho, nunca o contrário; e a outra diz que não se deve tomar as duas bebidas juntas.

O estudo concluiu que misturar vinho e cerveja, em qualquer ordem, aparentemente não afeta a intensidade da ressaca.

Novamente, o grau de embriaguez foi o fator determinante mais confiável para a intensidade da ressaca. Quando se misturam bebidas, a probabilidade de beber além da conta costuma ser maior.

Por isso, moderar a quantidade total de álcool consumida é mais eficaz para evitar a ressaca.

Não confie demais nas curas da ressaca

As supostas curas rápidas da ressaca são inúmeras.

No antigo Egito, por exemplo, as pessoas costumavam usar um colar feito com as folhas de um arbusto chamado louro-alexandrino. Já os romanos sugeriam comer canário frito.

Outros garantem que a solução é um prato de comida gordurosa depois da noite regada a bebidas alcoólicas, ou uma mistura horrível chamada em inglês de prairie oyster, composta de ovos crus, suco de tomate e molho apimentado.

A ressaca, contudo, geralmente não é causada por deficiência nutricional.

Uma pesquisa que examinou oito supostas curas diferentes para a ressaca, incluindo extratos de borragem, tratamentos com alcachofra, extrato de levedura, figo-da-índia e suco de frutas, além de diversos medicamentos, não encontrou em nenhuma delas capacidade de alterar o curso do mal-estar causado por ela.

Testes com outros métodos de alívio tiveram resultados divergentes. Alguns ajudaram a combater certos sintomas, como cansaço e náuseas, mas nenhum foi capaz de controlar todos os sintomas da ressaca.

O suco de pera-coreana, por exemplo, parece funcionar em pessoas cujo genótipo já as deixa menos propensas a sofrer de graves ressacas.

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Discutir os efeitos desagradáveis do álcool com amigos pode ajudar a beber menos

Costuma-se indicar que ovos podem ajudar na ressaca porque são ricos em um aminoácido chamado cisteína, que pode se ligar ao acetaldeído e neutralizar alguns dos seus efeitos.

Mas o papel do acetaldeído na ressaca é questionável, de forma que os benefícios da cisteína podem ser pequenos.

De fato, um estudo que ofereceu aos participantes um suplemento de cisteína encontrou pouca melhoria dos sintomas da ressaca – embora, curiosamente, as mulheres tenham se beneficiado mais do que os homens.

Ocorre que, em muitos casos, a qualidade das pesquisas nesta área é ruim, o que dificulta a elaboração de conclusões definitivas. Afinal, depender da experiência relatada pelas próprias pessoas com ressaca pode ser difícil por outros fatores – e pedir a elas que tracem comparações com ressacas anteriores pode causar vieses.

Talvez o melhor seja não colocar muita esperança nos remédios que prometem cura rápida da ressaca no dia seguinte.

A influência do papo com os amigos

Nossa decisão de beber mais em ocasiões sociais, muitas vezes, é influenciada pelo comportamento dos nossos amigos e familiares. O nosso cérebro está sempre em busca de indicações das outras pessoas sobre como devemos agir.

"Tudo o que os nossos amigos fazem nos influencia, conscientemente ou não. Sua presença pode decidir se iremos ou não agir com base naquelas informações de saúde", afirma a professora de comunicação persuasiva Christin Scholz, da Universidade de Amsterdã, na Holanda.

Em um estudo de 2019, Scholz perguntou a estudantes norte-americanos se eles haviam conversado com alguém sobre suas experiências recentes envolvendo álcool e se aquelas conversas eram positivas ou negativas.

A conclusão foi que eles bebiam mais álcool no dia seguinte se a conversa fosse positiva, enquanto o compartilhamento de experiências negativas com seus colegas os levava a beber menos no futuro.

"Digamos que eu tenha uma conversa com um amigo sobre os efeitos negativos do álcool e, no dia seguinte, vou ao bar com outras pessoas – ainda assim, eu defenderia que a conversa terá alguma forma de influência sobre mim", explica Scholz.

Qual é, então, a melhor forma de evitar uma ressaca? A resposta, certamente, é beber menos álcool.

Mas existem algumas dicas, como discutir os efeitos prejudiciais da bebida com os amigos antes de sair e concentrar suas expectativas nos efeitos sociais agradáveis de beber menos – ou talvez não beber.

E, se você estiver realmente planejado uma noitada, ficar longe de uísque e vinho tinto pode ajudar.

Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Innovation.