Agência BBC

'O que a cegueira oferece à arte': a experiência de conhecer obras com sentidos além da visão

Como pessoa com deficiência visual, a escritora Georgina Kleege (à dir.) tem o raro privilégio de tocar obras de arte como parte das chamadas visitas táteis. Clique na imagem para ouvir áudio da reportagem (Foto: Giovanni Bello/ BBC News Brasil)
The British Broadcasting Corporation

Nota para o visitante: para melhor apreciar as ideias contidas nessa reportagem, sugerimos que você acesse a versão em áudio acima.

Se você colocar suas mãos numa peça exposta em um museu ou galeria, provavelmente será repreendido ou expulso do local.

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No entanto, como pessoa com deficiência visual, a escritora Georgina Kleege tem o raro privilégio de tocar obras de arte como parte das chamadas visitas táteis oferecidas a ela:

Começo pelos olhos porque quero saber como o escultor mostra que ela é cega. Ao tocá-los, percebo que estão fechados. As pálpebras superiores e inferiores se encontram em uma linha horizontal pouco abaixo da metade do seu globo ocular. Isso me surpreende porque quando fecho meus olhos as pálpebras se encontram na parte inferior da cavidade do olho. Agora, toco as mãos. A mão direita segura uma vareta longa. Eu suponho que isso seja algo que ela usa para se orientar espacialmente, como uma pessoa cega hoje usaria uma bengala. No começo, é difícil identificar a vareta porque grande parte dela está envolta nas dobras do vestido. Essa escultura foi ricamente talhada, meus dedos passeiam por uma infinidade de detalhes.

O objetivo desta reportagem, no entanto, não é contar que as visitas táteis existem e, sim, convidar você a descobrir outros jeitos de desfrutar da arte.

Se você enxerga, feche os olhos por alguns minutos - e abra os ouvidos.

Vamos te levar ao Metropolitan Museum of Art, em Nova York, morada de uma escultura intitulada Nydia, the Blind Flower Girl of Pompeii (em tradução livre, Nydia, a Menina Florista Cega de Pompeia), de Randolph Rogers.

Nossa cicerone nesse passeio será Kleege, especialista em composição literária e deficiência e autora do livro More Than Meets the Eye - What Blindness Brings to Art (em tradução livre, Além do Olhar - O Que a Cegueira Oferece à Arte).

Kleege nunca viu Nydia com os olhos.

Por enquanto, aqui, você também não vai vê-la.

O que realmente chama a atenção na composição da escultura é a forma como seu braço esquerdo cruza o torso para que a mão esquerda forme uma concha em torno do ouvido direito, a palma virada para trás. Isso é tão incomum, demora um pouco para eu entender o que ela está fazendo. Se ela faz concha sobre o ouvido para ouvir melhor, seria mais natural colocar a mão esquerda sobre o ouvido esquerdo com a palma voltada para a frente.

Cega desde os dez anos de idade, Kleege passou horas "olhando" Nydia com as mãos.

Mãos aparecem tocando a representação de uma mão em uma escultura de mármore
Giovanni Bello/BBC
As mãos de Georgina Kleege e da repórter Monica Vasconcelos tocam a escultura Erinna, na Royal Holloway, University of London

Com base em explorações táteis desta e de diversas outras obras, ela desenvolveu técnicas para tocar objetos de arte e compilou ainda um catálogo de sensações que as obras despertam.

Kleege conta que descreve a experiência de tocar as obras como forma de retribuir esse privilégio, e também para "dar uma mãozinha" ao público vidente, compartilhando com quem enxerga outros jeitos possíveis e prazerosos de vivenciarmos a arte.

O trabalho de Kleege se baseia em ideias que viram de ponta-cabeça conceitos como cegueira e deficiência.

Ser ou ficar cego é ganhar um jeito novo de perceber e estar no mundo, diz. Essa experiência é valiosa, e pode beneficiar toda a sociedade.

Inspirados nesse pensamento, pesquisadores britânicos querem revolucionar a forma como museus e galerias apresentam obras ao público, rompendo a supremacia do olhar e oferecendo a visitantes uma experiência multissensorial. A chave, dizem, é um recurso de acessibilidade chamado audiodescrição. Ou descrição, simplesmente, em áudio ou texto.

Parece pouca coisa, mas estudos preliminares sugerem que descrições verbais do que vemos, tocamos ou ouvimos produzem grande impacto na nossa memória - naquilo que fica conosco após aquela experiência.

Há evidências também de que nossa experiência com uma obra de arte pode ser aprofundada se pudermos acessá-la simultaneamente por múltiplos canais da percepção, como audição, tato e olfato, por exemplo.

A seguir, vamos olhar esses estudos mais de perto e conhecer, com a ajuda de Kleege, uma dimensão praticamente inexplorada das artes - que surpreendeu até curadores do Met em Nova York.

Finalmente, para termos uma ideia de como seria um museu multissensorial, ouviremos, ao longo dessa reportagem, trechos da audiodescrição da escultura Nydia que Georgina Kleege compôs especialmente para a BBC Brasil.

Façamos juntos um experimento: Quanto da história de Nydia vai ficar guardada com você depois que tiver ouvido essa reportagem?

Voltemos ao Met Museum, em Nova York.

Georgina Kleege aparece de perfil, vestindo uma roupa preta, e tocando a cabeça da escultura
Giovanni Bello/BBC
Georgina Kleege e a repórter Monica Vasconcelos tocam a escultura Erinna, na Royal Holloway, University of London

Audiodescrição e memória

A pose é incrivelmente dinâmica. Essa jovem está definitivamente indo para algum lugar. Diferentemente do homem cego no quadro de Picasso, imóvel e triste, ela é ativa e corajosa. E tão jovem! No romance, ela é com frequência chamada de menina, ou criança. Eu sinto essa juventude na maciez arredondada dos seus braços e pernas. Até seus joelhos e cotovelos são redondos, sem protuberâncias. Seus pés não têm calosidades, percebo apenas duas linhas suaves na sola esquerda. Tremo só em pensar no que está por baixo desses pés descalços, queimando e cortando.

Seu rosto também me parece jovem, livre de rugas, as bochechas redondas. Na testa, linhas suaves sugerem tensão. A boca está entreaberta. Talvez ela esteja ofegante. Ou talvez esteja chamando por Glaucous.

Talhada em 1859, Nydia é inspirada em uma personagem do romance de 1834 Os Últimos Dias de Pompeia, de Edward Bulwer-Lytton, que culmina na erupção do Monte Vesúvio no ano 79 DC. A mais popular escultura americana do século 19, ela está exposta na Galeria 700 do Metropolitan Museum 5a Avenida, em Nova York.

O Met oferece um amplo programa de acessibilidade ao público com deficiência, incluindo visitas táteis.

Tradicionalmente, no entanto, museus são tidos como lugares onde as pessoas vão para olhar objetos.

Isso precisa mudar, dizem as psicólogas Alison Eardley e Rachel Huthinson, da University of Westminster, em Londres.

As duas integram o projeto "The Sensational Museum", para a criação de museus multissensoriais. E são autoras de pequenos estudos que tentaram medir o efeito da audiodescrição sobre a memória do público.

Em um deles, publicado em 2021, 148 voluntários videntes (ou seja, sem deficiência visual) foram convidados a olhar nove fotografias do acervo do Museum of London.

Um grupo apenas olhou as fotos. Um segundo grupo olhou as fotos enquanto ouvia informações básicas sobre elas (como título e autor, por exemplo). E o terceiro olhou as imagens enquanto ouvia uma descrição detalhada (AD) do que estava vendo.

Um mês mais tarde, participantes que tinham ouvido a descrição das fotos tinham mais lembranças da experiência do que os outros.

Para as autoras, esses resultados, ainda que preliminares, sugerem que o viés "ocular-cêntrico" prevalente em museus e galerias pode estar reduzindo o impacto da experiência da arte sobre o visitante.

"Quem enxerga pode ver o que está à sua frente, mas isso não quer dizer que essa pessoa sabe o que fazer com os olhos, como interpretar aquela experiência, como olhar ou onde olhar", diz Alison Eardley à BBC Brasil.

O caminho para uma maior qualidade dessa experiência é oferecer ao visitante um "olhar guiado", ela diz. Eardley está falando da audiodescrição.

"A audiodescrição dirige sua atenção em torno da peça, te oferece uma narrativa que começa em um lugar e te leva para outro, destacando aspectos importantes que o descritor identificou. O objetivo é te dar uma noção do que é a obra."

(Para quem não enxerga, a audiodescrição pode guiar a exploração tátil do objeto. Quem não ouve pode ter seu olhar guiado por um texto descritivo. E assim por diante.)

Até aqui nessa reportagem, queríamos que você conhecesse Nydia sem seus olhos - exclusivamente pela audiodescrição criada por Georgina Kleege. Agora, vamos acrescentar uma via extra de acesso. Se você enxerga, abra seus olhos agora. E procure na tela uma foto de Nydia.

A inclinação extrema da espinha sugere que a figura se move rapidamente para a frente. A perna direita está na dianteira, o pé esquerdo, atrás, prestes a sair do chão.

Eu repouso uma mão na escultura enquanto me movo em torno dela. Assim, consigo sentir o que chamaria de linha de energia que começa no pé esquerdo e depois sobe circulando o corpo até a altura dos ombros. Ao mesmo tempo, as fartas dobras de tecido do vestido da jovem se movem em espiral na direção oposta, colando-se ao seu corpo e depois esvoaçando à sua frente. A ventania deve ser grande. Tanto por conta do seu movimento rápido, quanto pela erupção do vulcão.

Isso é o que Eardley quer dizer quando fala em "olhar guiado".

Mas nossa memória também é ajudada por estímulos não verbais, diz a pesquisadora. Por exemplo, ela prossegue, ver a foto de um cachorro enquanto, simultaneamente, ouvimos o som do seu latido aumentará o impacto daquele estímulo sensorial (a visão da foto).

Com base nesse princípio, as pesquisadoras testaram em participantes cegos e videntes um tipo de audiodescrição que incluía efeitos sonoros relacionados ao conteúdo das imagens. Por exemplo, o som de passos ressoando no chão.

Outro ponto importante na entrevista de Eardley tem a ver com a noção prevalente de que a visão teria supremacia entre todas as outras vias de acesso às artes.

"Pesquisas na Psicologia confirmam que não existe uma experiência perceptiva objetiva", diz Eardley.

"Não existe uma única forma de focarmos nossa atenção sobre algo. E se é assim, então toda interpretação é subjetiva, toda audiodescrição é subjetiva."

A pesquisadora conclui: "Se (toda descrição) é subjetiva, então a descrição feita por uma pessoa vidente não tem mais valor ou significância do que a descrição feita por uma pessoa com visão parcial."

Se essa ideia te parece absurda, lembremos que, desde o início dessa reportagem, uma pessoa cega vem descrevendo, para nós, a escultura Nydia.

Duas mãos aparecem encostando no pescoço e no colo de uma escultura de mármore
Giovanni Bello/BBC

'Senti ternura e compaixão' ao tocar o rosto de mármore

Falando à BBC Brasil, Georgina Kleege diz que rompeu um pouco as regras quando compôs a audiodescrição de Nydia.

"Me inspirei tanto no romance quanto na escultura", ela conta. "Mas tive momentos muito agradáveis com Nydia."

A escritora explica, no entanto, que ao contrário do que muitos pensam, tocar uma obra de arte não é um jogo de adivinhar.

"Muitos acham que a pessoa cega toca a escultura e de repente uma imagem aparece em seu cérebro. Não é nada disso", ela diz. "Sou cega desde os dez anos de idade, não faço imagens mentais, não é assim que eu penso." Para Kleege, perceber a forma não é nem de longe o mais interessante nesse processo.

"No caso de Nydia, por exemplo. Não é o fato de termos uma mulher correndo. É o meio, a pedra, o metal ou o que seja. É a forma como o artista lidou com o material, a forma como o objeto praticamente diz a você como ele deve ser tocado", conta.

Então, como deve ser tocada uma escultura?

"Pois é, quem nunca tocou não sabe como fazer. Por ser cega, tenho esse privilégio, fiz muitas visitas táteis e venho sistematicamente criando técnicas e examinando minhas sensações ao tocar para poder comunicar isso a outras pessoas."

"Se o objetivo é simplesmente reconhecer o formato daquilo, você pode usar a ponta dos dedos. Mas para apreciar o todo da obra, você talvez precise pegar nela, apertar, puxar, dar umas batidinhas e beliscar. Se estender, se abaixar, andar em volta dela", explica Kleege.

Segundo Kleege, é sempre uma experiência profunda tocar onde o artista tocou, às vezes, séculos atrás.

Ela comenta que, em seu encontro com Nydia, sentiu duas emoções que a surpreenderam.

Um pouco da emoção é revelada nesse trecho da audiodescrição:

A sensação de movimento rápido torna difícil para mim seguir as técnicas de tocar esculturas que sistematizei.

Minhas mãos se movem desordenadamente, por toda parte. Para lembrar a mim mesma de que estou tocando uma escultura e não habitando o romance, uso uma das minhas técnicas de toque. Tento duplicar a pose da jovem com o meu próprio corpo. Mas quando inclino minhas costas no mesmo ângulo, e quando coloco minha perna direita adiante, como ela faz, caio para a frente. De repente, me vejo querendo interromper esse movimento. Quero segurá-la por trás, pela cintura, e mover meu corpo na direção oposta, com energia suficiente para fazer com que ela pare. Porque eu sei o que acontece agora nessa história.

A emoção de Kleege se explica, em parte, pela história da personagem Nydia no livro Os últimos dias de Pompeia.

A escultura captura o momento dramático em que, em meio à erupção do Vesúvio, Nydia guia Glaucous e Iona, as estrelas da história, para o porto. Ela conhece Pompeia como a palma da mão e não se abate com a falta de visibilidade.

Nydia, uma ex-escrava, ama Glaucous, que por sua vez ama Iona, com quem se casará. Mais tarde, todos em segurança no barco, a jovem se joga ao mar e morre afogada.

Kleege é crítica ao tratamento dado à personagem.

"Esse é um clichê em representações literárias da deficiência", diz. "Nesse caso, a ideia é, sou cega, vou ser um peso para os outros, então vou me jogar no mar. E isso é entendido como um gesto nobre. Como se não existisse lugar no mundo para pessoas com deficiência."

Mãos aparecem tocando pregas da roupa de uma escultura de mármore
Giovanni Bello/BBC
'Você toca e percebe uma coisa, você olha e percebe outra. Não é interessante juntarmos tudo isso?', diz Kleege

Clichê ou não, a história de Nydia estava ali, dando significados àquele objeto de pedra que Kleege tocou no Metropolitan Museum. Mas as emoções da escritora também resultaram do seu encontro físico com a escultura.

"Senti ternura e compaixão. Esses sentimentos foram despertados quando peguei o rosto da escultura entre as mãos. Quando você coloca suas duas mãos em torno do rosto de alguém, você está cuidando - mesmo que seja um rosto de mármore, o gesto desperta esse sentimento de cuidado, de compaixão, de preocupação", conta Kleege.

"A outra sensação que tive tem a ver com a postura extrema da figura, capturada em movimento para a frente, com a espinha inclinada em ângulo agudo. E como eu sei o que acontece com a personagem no romance, senti um desejo de segurá-la pela cintura e mover meu corpo para trás, na direção oposta. Como se eu estivesse dizendo, não, não vá. Foram emoções que eu não esperava sentir de forma tão forte", conta a escritora.

Graças a Nydia, os três vão embarcar em segurança um navio rumo a Atenas. Mas quando todos estiverem dormindo, a jovem vai acordar e perceber que, para ela, não existe futuro. E que a única casa e vida que conheceu foram destruídas para sempre. Então, ela vai se lançar ao mar e morrer afogada.

Mas no momento capturado pelo escultor, Nydia não sabe do destino que a aguarda. Tudo o que ela sabe é que tem de salvar o homem que ama. Ela segue às pressas, a mão em concha sobre o ouvido para ouvir a voz de Glaucous.

E por conhecer a história, não consigo separar a emoção que sinto do que estou sentindo com minhas mãos. Quero protegê-la do que vem vindo. Quero segurar seu rosto e implorar a ela salve a si mesma. Porque o homem que ela ama ama outra, e nunca a amará como ela merece ser amada.

Mas não posso, claro. E mesmo que pudesse, não faria a menor diferença.

Essa outra dimensão da arte, que permaneceria inexplorada sem a experiência do toque, deixa encantadas plateias que participam de oficinas oferecidas por Kleege em museus e galerias.

Escultura de Nydia, descrita ao longo desta reportagem
Getty Images
A escultura 'Nydia, the Blind Flower Girl of Pompeii' (em tradução livre, Nydia, a Menina Florista Cega de Pompeia), está no Metropolitan Museum of Art, em Nova York

'Ativando a obra de arte'

Em raras ocasiões, Kleege oferece visitas táteis a pessoas videntes, inclusive especialistas, como os próprios funcionários do Met.

"Eles ficaram muito animados em poder tocar uma (escultura de) mármore", conta Kleege. "Aproveitaram muito, descobriram coisas que não tinham notado antes sobre aquela peça. Tivemos conversas muito interessantes."

"Você presume que, por serem curadores, essas pessoas já sabem tudo, passaram anos estudando essas obras", comenta Kleege.

Em outras oficinas, Kleege apenas relata sua própria experiência de toque - e expande a percepção dos participantes.

"O pessoal dos museus diz que, quando descrevo minha experiência de tocar uma escultura, eu estou 'ativando' a obra de arte", conta Kleege.

"Eu gosto dessa palavra, ativação, porque ela subentende que olhar para uma escultura é um ato passivo, mas uma vez que você coloca suas mãos nela, ela se torna ativa e interativa. Estou interagindo com a escultura e, de certa forma, com o escultor."

Georgina Kleege, uma mulher de pele branca e cabelo brancos, aparece sorrindo. Ela veste um casaco preto e segura uma bengala branca
Giovanni Bello/BBC
'O pessoal dos museus diz que, quando descrevo minha experiência de tocar uma escultura, eu estou 'ativando' a obra de arte', diz Kleege

Esse é um dos benefícios de termos uma pessoa cega na sala, diz Kleege.

"Você toca e percebe uma coisa, você olha e percebe outra. Não é interessante juntarmos tudo isso?", ela pergunta.

Esse desafio, de juntar as várias experiências humanas da arte e oferecê-las ao público, foi abraçado por um grupo de pesquisadores britânicos liderados pela inglesa Hannah Thompson.

Imaginando um museu multissensorial

O projeto "The Sensational Museum" para a criação de museus multissensoriais reúne acadêmicos, pesquisadores e entidades como a Associação Nacional de Museus do Reino Unido.

Entre os museus participantes estão o Shakespeare Birthplace Trust, o Roman Baths e o National Paralympic Heritage Trust.

O museu multissensorial é um lugar onde cada visitante interage com o acervo usando o sentido que quiser, diz Thompson, professora de Estudos da Deficiência na Royal Holloway University of London, em entrevista à BBC News Brasil.

"Queremos nos afastar da ideia de que museus são lugares onde as pessoas vão para olhar", ela explica. E oferece alguns exemplos.

"Na semana passada, segurei nas mãos algumas moedas romanas antigas. Elas tinham um cheiro forte, e quando se chocavam umas contra as outras faziam um barulhinho evocativo", conta.

"Então, mesmo que as pessoas não tenham permissão de tocar nas moedas, você pode gravar o som delas. O som de uma pessoa chacoalhando as moedas, ou o som das moedas caindo no chão."

Hannah Thompson, uma mulher branca, com cabelos grisalhos, vestindo uma camisa azul marinho e um blazer rosado
Giovanni Bello/BBC
Hannah Thompson, professora de Estudos da Deficiência na Royal Holloway University of London, durante entrevista à BBC Brasil

O áudio adicionaria essa outra dimensão à dimensão preferencial, que é a visual, ela diz.

Você também poderia oferecer réplicas feitas com material não precioso, mas que produzissem a mesma sensação ao toque, com o mesmo peso e cheiro semelhante, propõe a pesquisadora.

"Dessa forma, a pessoa pode ter a sensação de como teria sido segurar essas moedas em um passado longínquo", diz Thompson.

A descrição verbal das obras - em áudio e texto - teria papel de destaque no museu que Thompson quer criar.

Digamos que você tenha uma escultura, propõe.

"O museu multissensorial exibiria a escultura de maneira bastante tradicional porque muita gente gosta de entrar em um museu e ser confrontada por um tipo de beleza inatingível", diz Thompson.

O visitante talvez tivesse acesso a uma réplica feita com o mesmo material da obra original para ser tocada. Crucialmente, estariam disponíveis também descrições detalhadas, em áudio e texto.

"Aliás, poderia haver várias descrições", ela prossegue. "Uma feita por um escultor, outra, por um restaurador que sabe como tocar a peça de um jeito específico. Também poderia haver uma descrição feita por uma pessoa cega que teve permissão de tocar a escultura. Assim, você soma várias descrições com interpretações diferentes daquela peça."

Depois de ouvir sobre o encontro emocionante de Georgina Kleege com a menina de mármore Nydia - e imaginar com Hannah Thompson esse museu do futuro, a ideia do museu "só para olhar" pode parecer um pouco sem brilho.

Mas talvez você já possa começar a aprofundar sua experiência com a arte. Lembre-se de que muitas galerias e museus já oferecem audiodescrição a visitantes. Informe-se. E desfrute desse recurso.

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