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Vitor Colares e a guitarra que toca solidão

Músico de Messejana é mais um entrevistado da série Safra 2017 - Música CE, que traz histórias de bandas e artistas locais que estão realizando apresentações de lançamento de disco no mês de janeiro
19:25 | Jan. 25, 2017
Autor Lucas Mota
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Lucas Mota Repórter na editoria de Esportes
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Tipo Notícia

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O cearense Vitor Colares, 38 anos, precisou passar por um processo de reconstrução para encontrar respostas aos anseios do cotidiano e da carreira artística. E a redescoberta na música está relacionada com o retorno dele a Fortaleza em 2014 - após cinco anos morando em São Paulo -, o amadurecimento como compositor e o foco na carreira solo. O resultado da caminhada é uma viagem minimalista por tons escuros e solitários exposta nas oito faixas do seu segundo álbum, intitulado como "Eu Entendo a Noite como um Oceano que Banha de Sombras o Mundo de Sol", do trecho da música "Beira Mar", de Zé Ramalho, referência musical para o artista.

[SAIBAMAIS]O novo trabalho está disponível para download gratuito e no Youtube desde o dia 10 de janeiro. Vitor lança o disco nesta quinta-feira, 26, em show no Anfiteatro do Dragão do Mar. Colares é mais um músico cearense entrevistado para a série Safra 2017 - Música CE, do O POVO Online, que traz histórias de bandas e artistas locais que estão realizando apresentações de lançamento de disco no mês de janeiro.

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Com 15 anos de carreira, o cearense criado em Messejana foi guitarrista do quinteto instrumental Fóssil e chegou a integrar outras formações, como o grupo Jardim das Horas e a banda do cantor Daniel Groove. A vontade de se dedicar ao trabalho solo levou o músico a um momento de reflexão. As oito canções do novo álbum foram criadas e gravadas em 2014, mas acabaram descartadas, num primeiro momento, porque Vitor não gostou do resultado final. "Acho que não era um disco que estava dizendo como eu estava querendo dizer naquelas músicas", explica.

[QUOTE2]E o processo de reconstrução levou Vitor a encontrar um som minimalista que dialoga com a solidão. Em 2016, ele voltou para os estúdios e gravou as mesmas músicas, mas com os arranjos diferentes. "Passei 2015 inteiro me apresentando sozinho, com guitarra e violão. Esse formato me ajudou a trazer essas músicas para esse lugar como estão no disco. Na primeira versão, tinha bateria e mais ritmos. Agora apenas uma música tem bateria em toda a canção. É um lugar mais delicado, que para achar tem que rolar a desconstrução da banda, de como tocar", resume.


O segundo álbum solo do cearense traz suas experiências e reflexões do momento vivido em São Paulo, de 2009 a 2014, até o retorno a Fortaleza. "Fui para São Paulo com a Fóssil, que está parada. Cheguei lá com vários pensamentos de como ser músico, tentar a carreira em São Paulo. Comecei a tocar com uma galera. Passei a me sentir sem tempo para mim. Gosto de escrever, de transitar por outras áreas. Apesar de gostar muito de guitarra, descobri que não queria ser só guitarrista de tocar com muita gente, ser instrumentista. Vi que queria me dedicar mais a isso, de ter meu disco, de buscar outro objetivo de vida, continuar na música, mas não só instrumentista".
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No palco do Anfiteatro, Vitor fará o show de lançamento acompanhado de sua banda, formada por Guilherme Mendonça (bateria), Rodrigo Colares (sintetizador) e Diego Maia (baixo e sintetizador). A apresentação terá a participação especial do guitarrista Felipe Lima, do Astronauta Marinho.


Veia de compositor
O talento de Vitor não se resume apenas a parte instrumental. Ele também se revelou na arte de contar histórias através das músicas. Um dos principis nomes oriundos da cena cearense, Daniel Groove, tem a canção feita em parceria com Colares, "Jardim Suspenso", como destaque do seu segundo álbum solo, "Romance Pra Depois". A melodia integra o novo trabalho do musicista criado em Messejana.

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Todas as músicas e letras de "Eu Entendo a Noite como um Oceano que Banha de Sombras o Mundo de Sol" são de criação do próprio Vitor, exceto Jardim Suspenso, Vermelho Azulzim e Portentosa, fruto de parcerias com Groove, Juliane Peixoto e Uirá Reis, respectivamente. Na hora de compor, o cearense prefere escrever sobre as próprias vivências.


"Me sinto mais à vontade quando é coisa minha para se dizer. Desde que comecei a compor, minhas composições são voltadas para o lado sentimental. Quero variar um pouco mais, abordar outros temas. Mas falando desse disco, essas letras foram de vários processos dos últimos anos. Vem de lugares diferentes, de conversa com amigos".


O passeio pelo sertão presente no novo álbum de Vitor, "Vermelho Azulzim", surgiu de um papo de internet com a amiga Juliane Peixoto, que rodava um filme no interior da Paraíba. "Ela estava falando sobre uma lua cheia que teve, aquela super lua. Ela estava filmando no interior da Paraíba, e perguntei como tinha sido, se a lua tinha sido bonita mesmo. Na conversa, ela já escreveu metade de Vermelho Azulzim. E eu disse pra ela que aquilo era letra de música. 'Pois faz o resto', ela me falou".

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O cotidiano é palco principal das inspirações para as canções de Vitor. De amores saudosos e intensos (como Jardim Suspenso, O Silêncio é o Espaço Entre as Bocas e Portentosa), do sumiço de um gato (Pistoleto) a experiências de um ciclo carnavalesco (Carnaval), ele cria uma atmofesra de ritmos delicados.


Em Solidão, o músico constrói um ambiente escuro sob trechos utilizados do filme "Songs of Avignon", de Jonas Mekas, que narra dúvidas e vazios de um homem de 40 anos. Vitor complementa "O Silêncio é o Espaço Entre as Bocas" com o poema "Separação", de Leonardo Marona, lido numa cena do filme "Doce Amianto", de Uirá dos Reis e Guto Parente.


Trajetória
[QUOTE1]A música era apenas mais um hobby de Vitor até a adolescência. Sem parentes no meio musical, o guitarrista só se interessou por instrumentos de cordas após o contato com o filho de um caseiro do sítio da família, que era baixista de uma banda de forró. Criado em Messejana, ele também demorou para interagir com a cena alternativa de Fortaleza, que surgia em pontos mais centrais da Cidade.


O primeiro violão veio aos 16 anos. Precisou convencer os pais de que o instrumento era um bom presente. "No sítio que a gente morava também vivia a família do caseiro. Um dos filhos dele que tinha a minha idade tocava baixo em uma banda de forró, comecei a me interessar. Convenci os meus pais a me darem um violão e já fui montando uma banda", comentou.


A primeira banda saiu no início dos anos 90. Na época, fã de grupos como Nirvana e Soundgarden, montou a No faith, seguindo o ritmo punkrock. O passo inicial durou pouco. "Só tocamos duas vezes em casas de amigos em Messejana. A galera bebia vinho e a gente tirava um som", relembra aos risos.


Mas o cearense não desistiu. A segunda banda, Cooling Down (99 a 2002), foi a porta de entrada na cena alternativa de Fortaleza. Também integrou o grupo 2Fuzz, entre 2002 a 2008.


Foi na banda instrumental Fóssil que o trabalho ganhou mais evidência. Integrando o quinteto, Vitor rodou por várias cidades brasileiras com shows. Em dez anos de parceria, entre 2004 a 2014, saíram dois discos: Insônia (2008) e Mocumentário (2012). Com os instrumentistas, ele se mudou para São Paulo em busca de dar sequência a carreira.

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Além dos shows e o contato com outros músicos, o período em São Paulo rendeu histórias curiosas. "Eu e o Victor Bluhm (bateria) estávamos morando na sala de uns amigos. Tinha um show marcado do Fóssil. Os nossos amigos saíram para trabalhar e esquecemos de pedir dinheiro para a passagem de metrô para ir ao show. O local era muito distante de onde estávamos. Saímos a pé duas horas antes da apresentação. Levamos o mínimo de equipamento. Fomos bem devagar, parando em restaurantes, pedindo copos d'água. No fim, chegamos e tocamos. Foi bom o show".

Focado na carreira solo, o guitarrista espera circular com o novo trabalho, algo que ele não conseguiu fazer como gostaria no primeiro disco. "Em 'Saboteur' (2012), nunca tinha lançado um disco solo, demorei para fazer show. Tinha a questão da timidez, de como lidar com a banda, de se empoderar do próprio trabalho. E agora estou mais tranquilo, sei melhor os músicos que estão comigo. Estamos numa ideia de família", finaliza.

 

Serviço:

Show de lançamento do CD "Eu Entendo a Noite como um Oceano que Banha de Sombras o Mundo de Sol", de Vitor Colares

Local: Anfiteatro Dragão do Mar

Dia e hora: quinta-feira, 26, às 20h

Acesso gratuito (Retirada de ingressos 2h antes do início do show, na bilheteria do Anfiteatro)

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